1990/1993 – SLIDING down the SURFACE of things

Páginas 236 a 247

Larry: Apesar de toda essa tecnologia e do design, a grande diferença para mim era o Bono com os seus óculos. Ele sempre tinha sido muito aberto antes, e a idéia das pessoas não verem seus olhos através dos óculos era muito grande. O Bono estava abraçando a sua estrela do rock. Entretanto, o meu trabalho não mudou.

Paul: Os Trabants se tornaram a imagem mais duradoura do trabalho de arte e da turnê. Esses carros eram feitos de madeira prensada e cheiravam à repolho molhado. De alguma forma, eles se tornaram a imagem da queda do comunismo. Nós víamos esses carros em todo lugar em Berlim. Havia um racismo tremendo entre os alemães orientais e ocidentais. Os alemães ocidentais os chamavam de Ostis e consideravam eles estúpidos e preguiçosos. Então quando o muro caiu, o sentimento no ocidente era: ‘Oh, eles estão vindo pra cá nos seus pequenos carros estúpidos’. Nós tocamos com os carros no palco e os penduramos e colocamos holofotes no lugar dos seus faróis.

Edge: Havia uma grande sensação de excitação quando nós começamos a turnê da Zoo TV. Nós sabíamos que estávamos fazendo coisas que nunca ninguém tinha feito antes.

Paul: A turnê começou em lugares fechados, na Lakeland Arena na Flórida em fevereiro de 1992, e apenas cresceu e cresceu, indo para lugares abertos na Europa e depois retornando para estádios na América.

Adam: Nós ficamos em Lakeland por alguns dias para fazer testes de roupas e tentar nos entender com o equipamento. Eu me lembro do momento quando as roupas chegaram e nós finalmente vimos o Bono como o The Fly.

Larry: Nós avisamos a imprensa quando a banda chegou para fazer os ensaios. Nós chegamos numa grande limusine branca expandida, acompanhado de batedores da polícia. O Bono tava com a cabeça para fora do carro pelo teto solar, fazendo o sinal da vitória, usando as roupas pretas do The Fly e uma jaqueta preta imitando couro. Enquanto tem momentos que você precisa de escolta para chegar e sair dos shows, normalmente os ensaios são feitos de forma bem discreta. Agora nós estávamos permitindo a imprensa ver os ensaios e basicamente dizendo, ‘Yeah, nós somos estrelas do rock, nós temos escolta policial, viajamos de limusine e, vocês querem saber o quê, nós não estamos mais embaraçados com tudo isso’. Havia certas coisas sobre isso que me faziam tremer, mas por outro lado havia coisas relaxantes em dizer, ‘Yeah, essa é a merda, é isso que acontece, e isso é muito divertido’. A honestidade era um grande alívio. E esses shows eram maravilhosos. A música era desafiadora. O espetáculo era surpreendente. A reação do público era impressionante. Eu acho que muitas pessoas acharam que o U2 tinha perdido a sua consciência, porque agora estava vestido de forma irreverente e cafona com todo esse exibicionismo de estrelas do rock. As pessoas achavam que nós tínhamos abandonado o nosso passado. Realmente, nós tínhamos abandonado as nossas próprias inseguranças. Essa foi provavelmente a coisa mais política que nós já tínhamos feito.

Adam: O Bono telefonar para Casa Branca era um belo toque, mas o máximo que ele conseguia era falar com a telefonista. Durante toda a turnê, eu não acho que ele conseguiu estabelecer uma relação com a telefonista. Se você conhece o Bono, isso tem que partir de uma pessoa bem dura.

Bono: A telefonista número dois e eu tínhamos uma grande relação. Ela tentava não mostrar isso, mas eu lhe falava que ela era muito divertida noite após noite quando nós ligávamos. Nós tínhamos vinte mil fãs do U2 deixando mensagens. ‘Diz para o presidente assistir mais TV’.

Nós estávamos tentando levar a questão do uso de tecnologias do dia-a-dia como parte das nossas instalações de arte: televisões, rádios, telefones. É sempre uma grande excitação quando você percebe o quão poderoso pode ser um simples objeto. É incrível o que você pode fazer com um telefone, se você pensar em como usá-lo. Você pode ligar para o presidente dos Estados Unidos ou você pode pedir uma pizza. Uma noite, apenas para dar uma boa risada, eu liguei pedindo uma pizza. Eu pedi dez mil pizzas do Speedy Pizzas em Detroit. Eles podiam fazer apenas mil, mas nós compramos e distribuímos para platéia.

Outra coisa que nós fizemos foi criar um vídeo confessionário. Toda noite, quando o público chegava, alguns deles ficavam em uma fila para entrar em uma cabine telefônica toda revestida com tecido de pele de leopardo e contavam os seus segredos mais profundos. Isso era randomicamente editado, os mais sublimes e ridículos eram cortados e mostrados nos telões antes dos shows. Havia pessoas que faziam declarações genuínas, de coisas que eles realmente tinham feito no passado, confissões de amor para alguém da platéia que não sabia desse sentimento, confissões de comportamentos abusivos, tomadas ocasionais dos decotes (apesar de nós tentarmos não colocar muito disso), alguns beijos. Isso era impressionante e tinha algumas coisas muito emocionantes. Um cara confessou para o seu irmão que ele tinha se envolvido em um acidente de carro provocado por excesso de bebida alcoólica, e que algumas pessoas ficaram feridas. Apesar de nós rirmos no Jerry Spinger e desses filmes de confissões, havia algo positivo, um benefício psicológico em dizer alguma coisa em uma arena lotada de pessoas. De alguma forma fez isso tudo ser verdadeiro. Era incrível as coisas que saíam naquela pequena cabine telefônica, onde você tinha que ser o tanto honesto quanto intimidado você quisesse ser na frente de 20.000 pessoas que você não conhece.

Edge: O Bono realmente estava um pouco enrolado como o The Fly. Algumas pessoas diziam naquela época, ‘Será que ele consegue voltar depois disso?’ Era uma coisa tão envolvente, ele estava fazendo o papel do “rock star”, mas a questão se prolongou, estaria o “rock star” brincando com ele? Eu acho que esse é apenas um aspecto porque ele inicialmente queria estar dentro do rock and roll e foi de forma repentina dada a chance de ser completamente exorcizado. Isso não indicou uma mudança nos nossos valores principais, apenas uma tentativa de corrigir o equilíbrio. Ninguém sabia que nós tínhamos senso de humor, nós tínhamos nos tornado roqueiros melancólicos, revestidos de chumbo. A Zoo TV abriu todas as possibilidades para o teatro; mudanças de comportamento, ironia, sátira e farsa, e finalmente acabar com aquelas velhas idéias que nós éramos uma banda de pessoas dolorosamente sérias que não sabiam como se divertir. Se você colocar o Achtung Baby pra tocar agora e tentar contar para alguém que esse foi o momento que nós descobrimos o humor, eles achariam que nós éramos doidos, porque é um disco muito pesado. É torturante. Mas entre toda essa intensidade há um pequeno elemento de humor e leveza e uma certa qualidade, onde nem toda coisa soa como se sua vida dependesse disso, o que era a idéia do The Joshua Tree e do Unforgettable Fire.

Larry: Eu estava realmente gostando de trabalhar com essa tecnologia, poder usar a percussão como referência do tempo me deu muito espaço para operar como um músico. Todas as coisas que tinham me preocupado enquanto nós fazíamos o Achtung Baby foram resolvidas durante esses shows ao vivo. Eu acho que essa foi a prova que nós tínhamos escolhido o caminho certo, que esse era o futuro para o U2, e mistura da tecnologia com a banda, entretanto eu acho que mais tarde nós acabamos forçando um pouco a barra.

Paul: A Zoo Tv foi entendida mundo afora como uma nova categoria de apresentação. Foi o surgimento do vídeo como um elemento criativo, muito mais do que nós chamávamos de i-mag, magnificação da imagem. Os críticos de arte e de arquitetura estavam escrevendo sobre nós. Era muito engraçado. Psicologicamente, isso elevou o U2 a um grupo de elite que incluía apenas Pink Floyd e The Rolling Stones. Eu me lembro de assistir a um dos shows com o Mick Jagger. Ele se virou para mim e disse, “Isso vai ser como o ‘Guerra nas Estrelas’. Se você faz alguma coisa tão grande quanto isso, nós teremos que fazer ainda melhor”. De certa forma ele estava certo, porque a partir daí o público não iria aceitar uma banda em uma caixa preta com um pouco de aço e uma lona sobre as suas cabeças e painéis brancos com algumas imagens ao lado do palco. Essas três produções, Pink Floyd, The Rolling Stones, e acima de tudo, o U2, elevou o nível para todo mundo.

Eu me lembro que toda a turnê foi um triunfo, entretanto ela não fez nenhum dinheiro. Frank Barsalona, Ian Flooks, Barbara Skydel e eu imploramos para a banda para poder aumentar U$5,00 no preço dos ingressos. Eu acho que o preço dos ingressos era U$25,00 e era muito barato. Eles eram muito sensíveis com relação ao preço dos ingressos, sensíveis até demais. Se nós tivéssemos colocado apenas mais alguns dólares nos ingressos, isso teria sido além de um sucesso criativo, um grande sucesso financeiro. Eu acho que esse foi um investimento no futuro, era o que nós sempre nos falávamos para nos sentirmos melhor em relação ao dinheiro.

Bono: Na primeira fase da turnê americana, nós criamos um personagem chamado Mirror Ball Man, um tipo de showman americano. Ele tinha a confiança e o charme de pegar um espelho, se olhar e dar um grande beijo no vidro. Ele adorava dinheiro, e na sua cabeça o sucesso era uma benção de Deus. Se ele fizesse dinheiro, ele não estaria cometendo nenhum erro. Eu poderia pregar a mensagem de prosperidade vestido na minha roupa de “mirror ball” e acabar com a seguinte frase: ‘Eu tive uma visão! Eu tive uma visão! Televisão’. O Mirror Ball Man poderá telefonar para a Casa Branca, onde, muito mais para sua confusão, a telefonista número dois se recusava a ligá-lo com o presidente. Tem um filme em algum lugar do Mirror Ball Man dirigindo um Trabant na Times Square. Eu levei a Winona Ryder para me ajudar. Ela se vestiu como o Mirror Ball Man, um Fly bem cuidadoso, toda de couro com óculos escuros, nós a chamamos de The Flea. Ela era uma garota perfeita para fazer isso, mas eu não lembrei que ela era uma grande estrela e de tempos em tempos uma multidão se aglomerava em torno dela. Eu dizia, ‘Essa não é a Winona Ryder, é a The Flea’, mas eu não conseguia convencê-los. As pessoas agarravam ela, gritavam, ‘É a Winona!’ Durante toda essa turnê havia poucas performances artísticas acontecendo pelo mundo, sem nenhuma razão particular. Você poderia classificar isso tudo como uma grande loucura... custando quase que um grande minuto!

Edge: Nós tínhamos uma dançarina do ventre durante ‘Mysterious Ways’. Sexo e U2: uma combinação sem precedente. Isso foi uma certa casualidade. Christina Petro era uma dançarina que era fã do U2 e ela apareceu em uma rua em Miami toda vestida de dançarina do ventre. Com uma certa ajuda, a equipe conseguiu que ela dançasse no palco durante o último ensaio. Isso era realmente muito efetivo, sexy, mas legal e uma referência ao clipe da música. Então nós a convidamos para ir para a estrada e participar da turnê com a gente.

Adam: Nós tínhamos a habilidade de mandar e receber coisas via satélite, nós podíamos nos conectar com eventos ao vivo em outros lugares. Tinha uma competição do U2, onde o ganhador tinha todo o show ao vivo na sua televisão em casa.

Bono: A energia da televisão tem tudo a ver com a sua habilidade, ao toque do controle remoto, de fazer mudanças extraordinárias de Daffy Duck no canal da Disney para um pregador falando para a congregação que eles irão para o inferno hoje à noite se eles não mantiverem o show no ar com as doações, para um anúncio de venda de um Buick novo, para notícias reais de vidas reais de lugares bem distantes. Nós colocamos tudo isso no palco. A coisa realmente extraordinária sobre a mídia moderna é a forma como eles jogam com a destruição das nossas emoções. Essas mudanças de canais, se você for são, seria muito mais preocupante do que nós deixaríamos ser.

Edge: A Zoo TV não era uma apresentação, era um estado de alma. Era constantemente envolvente e mutante e absorvia novas idéias à medida que elas iam surgindo. Se você comparar com a primeira fase em lugares fechados na América, em fevereiro de 1992, com o final da turnê em lugares abertos como em Tokyo, em dezembro de 1993, dificilmente você reconhece como sendo o mesmo show. Nós mudávamos conscientemente para cada novo lugar do mundo.

Larry: Nós começamos em lugares fechados na América e continuamos assim na Europa, onde nos envolvemos com o protesto no Stop Sellafield. Isso foi interessante. As pessoas podiam achar que nós não estávamos mais envolvidos com questões sociais e de direitos humanos, mas na verdade nós estávamos fazendo muito mais do que antes.

Edge: O Greenpeace sempre foi algo que nós apoiamos por vários anos, e eles estavam preparando uma campanha para protestar contra a construção de uma segunda usina nuclear em Sellafield, na Cumbria no noroeste da Inglaterra, onde eles reprocessavam lixo nuclear para fazer plutônio para fazer armas atômicas. Justamente quando o resto do mundo estava acabando com a corrida das armas e começando a pensar em formas de reduzir os seus estoques nucleares, Sellafield teve essa idéia brilhante de construir uma fábrica multi-bilionária de reprocessamento de plutônio para a construção de armas.

Bono: Isso era uma grande comédia. Nós invadimos a praia e recriamos a capa de Help, dos Beatles, usando placas sinalizadoras, exceto pelo fato de que estávamos usando roupas protetoras. Essa é uma foto memorável, senão muito lisonjeira. Ela mostrou a nossa questão de que os moradores locais estavam morando em um perigo real. Até mesmo há algumas centenas de milhas distante, na costa leste da Irlanda, havia alguns relatórios sobre o aumento de algumas doenças que poderiam ser atribuídas à fumaça dos reatores de Sellafield. Foi sugerido que o mar irlandês era o mar mais radioativo do mundo. Alguns pescadores juravam que tinham visto peixes com duas cabeças – Eu tenho certeza que haviam alguns pescadores com duas cabeças envolvidos nessas histórias. Mas mesmo no nível econômico, a fábrica de reprocessamento de Sellafield não estava fazendo nenhum dinheiro e nenhum sentido para a Grã-Bretanha.

Edge: O evento foi um grande sucesso do ponto de vista da mídia, mas, apesar das reclamações, eles ainda assim abriram a segunda usina. Então, eu fiquei sem saber até onde o nosso protesto fez alguma diferença, mas eu tenho certeza que isso não fez nenhum mal.

Bono: Após anos e anos de protesto, incluindo uma campanha liderada pela minha querida esposa, Ali, que (com a sua parceira, Adi Roche) organizou um milhão e meio de cartões postais do povo irlandês em protesto para Tony Blair, o governante inglês finalmente concluiu que Sellafield deveria ser fechada. É isso que eu sempre falo para as pessoas: Essas coisas levam tempo.

Paul: Nós voltamos para os Estados Unidos em agosto para o que nós chamamos de Zoo TV – Outside Broadcast. Nunca ninguém tinha se atentado para fazer uma produção tão grande em lugares abertos. Isso foi uma grande coisa.

Bono: A Catherine Owens encontrou essa montagem no Emergency Broadcast Network – EBN. Eles tinham reorganizado o discurso à união do presidente George Bush sobre a música ´We Will Rock You`, do Queen. Eles usaram todas as suas palavras, mas reeditaram em uma ordem diferente. Então você tinha o presidente dos Estados Unidos cantando ‘Alguns podem perguntar, porque sacudir agora? A resposta é clara: esses são os tempos da alma dos homens da defesa. Eu instruí os nossos comandos militares para destruir completamente Bagdá. E eu repito isso aqui hoje a noite... Nós iremos, nós iremos sacudir vocês!’ Isso era uma abertura magnífica para o nosso show e diferente de qualquer coisa que já se tinha visto antes. Entretanto, nós agora estávamos envolvidos com a campanha eleitoral e parecia que nós estávamos do lado do Bill Clinton, o jovem governador do Arkansas. Isso era potencialmente um divisor para o nosso público, mas parece que eles aceitaram isso muito bem. Ironicamente, a banda me fez prometer que nós não iríamos nos envolver com as eleições. Eles disseram, ‘Nós não iremos nos envolver nessas eleições porque nós não somos americanos, não é Bono?’ ‘Não, nós não somos’, eu costumava responder,

'Nós somos irlandeses. Eu não vou me envolver nessas eleições.'
'Então, por que nós estamos ligando para a Casa Branca?'
'Isso é um pouco contraditório!'
'Porque nós fazemos uma ligação para o desafiante?' 'É divertido!'
'Isso significa que nós iremos nos envolver nas eleições?' 'Não.'

Mas pareceu. E nós estávamos.

Adam: O Bill Clinton ligou para um programa de rádio enquanto nós estávamos dando uma entrevista e houve uma troca de brincadeirinhas. Isso se tornou outra pequena história dentro da turnê, porque depois ele se encontrou com a gente no hotel em que estávamos hospedados em Chicago e teve que ficar com uma suíte menor porque o Bono estava na suíte presidencial.

Bono: Eu e o Edge ficamos acordados durante toda a noite, escrevendo uma música para o Frank Sinatra chamada ´Two Shots of Happy, One Shot of Sad`. Ele nunca gravou essa música, pensando que sua filha Nancy tinha feito uma bela versão. Nós estávamos no quarto do Edge quando ouvimos que o Bill Clinton, o candidato à presidente, estava no meu quarto esperando para nos conhecer. Meu quarto, eu devo explicar, estava uma bagunça por causa de uma festa que tínhamos dado na noite anterior. Essa festa foi tão alegre, que alguns integrantes da nossa equipe só acordaram quando o governador chegou. O serviço secreto explicou gentilmente que 2:00 hs da manhã é um pouco tarde para ligar, mas quando esse grande homem de Little Rock descobriu, ele evidentemente mudou os planos e veio nos conhecer. Eu tenho certeza que quando os seus assessores viram o nosso estado e do nosso quarto, eles devem ter se arrependido desse encontro do pop com a política. O governador estava completamente relaxado, rindo em voz alta das garrafas vazias, caixas de pizza e das latas de lixo completamente cheias. Eu me lembro que eu ainda estava usando uma roupa de veludo toda amassada da noite anterior. Nós conversamos sobre várias coisas, dos problemas na Irlanda ao uso do saxofone no rock and roll. Ele é muito fácil de lidar com as pessoas e tem muita curiosidade sobre todas as coisas que podem fazer do mundo um lugar melhor. Um novo tipo de políticos tinha entrado na nova cena mundial, os primeiros do nosso tipo, quero dizer, pessoas que cresceram ouvindo rock ‘n’ roll ao invés de Mantovani. Verdadeiros cérebros poderosos, charmosos e com um grande senso de humor. O que mais você poderia querer? Ele acabou nos convidando para ir com ele assistir ao jogo do Chicago Bears naquela noite. É justo dizer que nós tínhamos a maior suíte no Ritz Carlton, e ele tinha a maior comitiva de carros.

Edge: A minha vida teve um pouco de romance durante o Outside Broadcast. Algumas vezes aparecem algumas notícias erradas que eu me casei com a dançarina do ventre. Bom, isso não é totalmente verdade. A minha então futura esposa, Morleigh Steinberg, entrou na turnê como coreógrafa e crítica do show, mas mais tarde começou a fazer a performance da dança do ventre durante ´Mysterious Ways`. Nós já tínhamos nos conhecido algum tempo antes. O primeiro contato da Morleigh com o U2 foi antes de 1987. Entretanto, eu não a conhecia naquela época, ela de fato faz uma participação no clipe de ´With or Without You`. Ela foi fotografada por Matt Mahurin, em um estilo bem abstrato e depois projetada sobre a banda enquanto nós tocávamos a música.

Bono: A Morleigh tem a axila mais bonita do mundo. Se você vir esse vídeo, você vai entender o que eu estou dizendo. Ela era uma dançarina moderna e uma coreógrafa de um grupo de dança de vanguarda chamado ISO, que era de um desdobramento de um grupo bem conhecido chamado Momix. Eu me tornei um grande fã deles.

Edge: Eu conheci a Morleigh pessoalmente durante a turnê do The Joshua Tree. Quando nós tocamos em Los Angeles, ela estava dando uma festa na sua casa e eu fui dar uma passada lá, fiquei sentado nas escadas apenas tendo uma conversa muito agradável com a Morleigh e com suas irmãs, sem ter nenhuma idéia de que as nossas vidas iriam se conectar depois disso. A Morleigh manteve contato com o Bono durante anos. Quando nós estávamos planejando a Zoo TV, o Bono achou que seria legal ter uma coreógrafa que pudesse criticar o que ele estava fazendo. Então a Morleigh começou a dar algumas dicas para ele e trabalhou com a gente na pré-produção da turnê. A nossa dançarina do ventre original, Christina, tinha literalmente deixado tudo para trás e entrou no circo com a gente, mas ela não podia fazer a parte européia da turnê, aí a Morleigh disse, ‘Eu não sou uma dançarina do ventre, mas vocês precisam mais de uma performance do que uma dançarina do ventre estritamente falando, então, se vocês quiserem, eu posso fazer isso.` Então a Morleigh participou do resto da turnê. Durante o período que ela estava na estrada com a gente, a nossa amizade se transformou em alguma coisa ainda maior.

Bono: Todos nós nos apaixonamos pela Morleigh, ela é uma pessoa muito fácil. Ela é californiana em todas as formas que você pode amar a Califórnia, uma luz brilhante em uma forma bem simples. O Edge se apaixonou por ela. É isso que geralmente acontece com pessoas que se apaixonam, eles eram amigos antes de serem amantes.

Paul: Era a época das super modelos. Como o mundo da moda normalmente se concentrava em alguns grandes centros, na semana da moda de Nova York, as coleções de Paris, a semana de moda de Londres e por aí vai, as grandes modelos sempre estavam nos mesmos lugares ao mesmo tempo e ocasionalmente esse lugares coincidiam com a turnê do U2. Era muito legal ver o show ser repentinamente invadido por essas belas criaturas, a maioria delas era muito independente e não precisava de transporte especial. Elas eram convidadas que não davam muito trabalho, porque como eram viajantes profissionais tinham sua própria infra-estrutura de suporte. Nós estamos acostumados a lidar com convidados famosos e a maioria deles não sabiam nem como sair do estacionamento e ir para o camarote. As super modelos eram completamente experientes nesse assunto e muito práticas. Nós gostávamos muito delas.

Bono: Eu tinha concordado em sair na capa da Vogue. Me disseram que eu ia ser o primeiro homem na capa nos últimos 20 anos. Durante as sessões eu fui apresentado pelo fotógrafo, um cara adorável chamado Andrew MacPherson, à pessoa que ele descreveu ser a garota mais bonita do mundo. Christy Turlington. E aí começou uma amizade que nós mantemos até os dias de hoje. Quando as super modelos começaram a ir aos show, o pensamento que nos ocorreu é que essas garotas – Kate Moss, Helena Christiansen, Naomi Campbell e Christy – eram muito mais divertidas do que os músicos com quem nós costumávamos sair. E todas elas tinham um gosto musical impecável e sempre sabiam o que ia acontecer depois. A Helena fazia apresentações como DJ. Eu conheci a Naomi em um avião, onde eu sentei ao lado dela e não consegui esperar até sair do avião para falar isso para o Adam, porque ele tinha uma queda pela Naomi já há alguns anos. Então eu marquei um encontro para eles. E o resto, como o nosso companheiro disse, não é história.

Adam: A Naomi veio para um show e nós nos conhecemos. Era um tempo muito estranho e frenético, o começo da turnê em lugares abertos e nós acabamos nos envolvendo muito rapidamente. A relação trouxe consigo um grande prazer para os paparazzi. Se por um lado isso pode ser muito engraçado e não ser levado muito a sério, por outro pode ser um pouco invasivo demais. Apesar de ser de uma banda de rock mundialmente famosa, eu não sou o tipo de pessoa que tem uma vida muito pública. Mas eu acho que tem pessoas que tem uma vida pública e conseguem administrar isso sem grandes dificuldades, mas para mim isso é muito difícil.

Quanto maior você fica, de uma forma bem estranha, menor se torna o seu mundo. Você pode ficar em uma cabine agitada. A sua rotina é muito pouco natural, e você pode estar em qualquer lugar em qualquer momento. Você é constantemente exposto ao público, não importa como você esteja se sentindo, você tem que lidar com as pessoas o tempo todo e eles esperam que você seja ou uma ou outra coisa. Esse não foi um bom tempo para mim. Eu estava a ponto de uma tragédia, tudo estava fora de controle. Eu definitivamente não estava preparado para isso e eu não tinha muita habilidade para lidar com tudo àquilo que vinha com a Naomi. As relações por si só já são difíceis sem essa pressão extra. Tudo que eu posso dizer é que no final não funcionou para mim e que em retrospectiva isso tudo foi uma boa experiência para mim. Quando eu olho para trás agora e vejo o que deu errado, é que não era o lugar certo para mim. Mas você não fica sabendo disso até você tentar.

Bono: O Adam e a Naomi se completavam de alguma maneira, eles realmente combinavam. Mas eu acho que o Adam estava meio fora de controle naquela época e se apaixonou muito rápido, não deixando as coisas crescerem e amadurecerem. Mas eles se divertiram muito. O Adam tem um coração muito romântico. Houve momentos no meu casamento que eu pensava sobre as conversas que eu perdi, as noites que passei fora, essas lindas garotas que ainda prometem muito. Agora, com um pouco mais de experiência, eu acho que eu sei como aquela noite deveria ter sido e a conversa que nós deveríamos ter tido e esse não é um lugar particularmente interessante. Mas não é tão fácil de lidar com o dinheiro, não é fácil lidar com a fama, não é fácil de lidar com mulheres se jogando para cima de você, apesar de você ser casado, quer dizer, especialmente se você é casado. Não importa o quão forte você é, não importa o quanto correto, esses são obstáculos reais que você tem que descobrir como ultrapassá-los. Eu nunca vou esquecer do momento que o Adam me viu em uma ‘chave de braço’ com uma estrelinha e me disse, ‘Isso é legal. É muito excitante fazer sexo com alguém que você não conhece. Não deixe ninguém lhe dizer que isso não é legal. É uma grande aventura conhecer alguém assim. Mas não tão raro quanto se apaixonar, é um amor verdadeiro, eu vou morrer pelo seu amor, eu estarei ao seu lado quando você estiver doente e quando você estiver cansado. Isso é muito raro atualmente. Eu daria tudo, todas essas experiências que eu estou tendo, todas essas mulheres diferentes e extraordinárias, eu daria tudo isso pelo que você tem’. Eu me lembro do Adam me dizendo isso. E se houve um motivo para ter escolhido ele como meu padrinho de casamento, foi esse, essa conversa.

Edge: Estrelas do rock e super modelos, é um pouco clichê, mas nós estávamos felizes em viver com esse clichê porque essas super modelos que nós conhecemos são ótimas pessoas e nós ainda somos amigos muito próximos.

Larry: Essa coisa toda de super modelos, clubes e paparazzis não faziam muito o meu estilo. Eu achava isso um pouco desconfortável. Elas eram todas boas pessoas e eu era muito fã delas. Mas algumas pessoas não fazem festa de Natal, não gostam de ir à praia, alguns não gostam de vento, alguns não gostam do sol. O mundo da moda não é meu habitat natural.

Bono: Como você pode reclamar de ficar desconfortável com a atenção do público e depois passar o resto da sua vida em uma banda de rock? Tem algumas coisas sobre o meu baterista que eu não consigo entender. O Larry tinha até um pequeno solo durante esses shows em lugares abertos e eu não estou falando de apenas um pequeno solo de bateria. Esse é um cara que poderia cantar à capella ´Dirty Old Town` e outras músicas irlandesas sobre bebidas, noite após noite em frente à uma platéia de 50.000 pessoas, e depois te falar que ele não gosta de ser o centro das atenções.

Larry: Isso era horrível. O Bono tinha que fazer uma troca de roupa. E a questão era, ‘O que nós vamos fazer?’, eu disse,

'Eu não sei. Por que vocês estão olhando pra mim?,' Bono disse.
'Bom, alguém tem que fazer alguma coisa.'
'Que tal você ir para frente e cantar uma
música irlandesa tradicional?'
'Eu não posso fazer isso!' 'Vamos, pelo menos tente.'
'De jeito nenhum!'

O Bono disse, ‘Olhe, eu estou preso, não tem mais nada que a gente possa fazer. Isso vai me ajudar’. Eu fiz isso por ele porque ele já tinha feito tanta coisa, que era o mínimo que eu podia fazer para ajudar ele. Isso foi torturante. Esse é um pedaço particular da turnê que eu faço questão de não me lembrar.

Bono: A eleição presidencial aconteceu no mesmo tempo do encerramento da turnê americana. O George Bush, que nunca atendeu nenhum dos meus telefonemas, perdeu as eleições para o seu oponente, um fã do U2 declarado. O Mirror Ball Man teve a última chance de consolidar a sua relação com a telefonista número dois. Eu disse, ‘Oi, eu posso falar com o ex-presidente George Bush, por favor?’ Ela me disse que ele não podia atender. A telefonista número dois sempre foi muito profissional. Eu realmente gosto disso numa mulher. Eu disse, ‘Mas é a nossa última noite! Eu posso deixar uma mensagem para o George?’ Ela disse que eu podia. Eu disse, ‘Eu queria apenas dizer que eu não vou mais incomodá-lo de agora em diante. Eu vou incomodar o Bill Clinton agora...’

Adam: A turnê americana acabou em novembro, e os shows na Europa iam começar em maio, então nós tínhamos uma folga por alguns meses. Nós fomos convidados para a posse do Clinton em 20 de janeiro de 1993. O Bono e o Edge não puderam ir, mas eu e o Larry fomos para demonstrar o nosso apoio. Houve um grande encontro e um circuito de festas que começou na noite anterior em Washington, onde compareceram todas as pessoas e grupos que financiaram e apoiaram a campanha eleitoral presidencial. O presidente foi a cada numa das festas e disse algumas palavras. O programa ‘Rock the Vote’ da MTV foi um grande contribuinte e eles estavam preparando uma grande festa, e nós fomos para essa. De verdade, nós estávamos pensando em ir para festa do senador Teddy Kennedy, mas o Michael Stipe e o Mike Mills do REM estavam na cidade e nós tínhamos nos encontrado com eles na noite anterior. Eles deram um grande apoio publicitário para o Clinton e eles queriam fazer um show para o novo presidente. Então surgiu a idéia de metade do REM e metade do U2 se apresentarem na festa da MTV. O álbum deles na época era o Automatic For The People, o nosso era o Achtung Baby, e então por apenas uma única noite nós nos tornamos o Automatic Baby. Nós tocamos uma versão bem simples, acústica de ‘One’, que de fato é uma música para qualquer ocasião. O Mike Mills tocou guitarra, e foi fácil para nos encaixarmos, o Larry tocou bongô e eu baixo. Eu não sei se isso pode competir com ´Happy Birthday Mr. President` da Marilyn Monroe como uma das melhores performances presidenciais, mas foi muito legal, e o Clinton pareceu ter gostado.

Paul: Eu e Kathy fomos para Washington para a festa. Na noite anterior, eu recebi um telefonema informando que o meu irmão mais novo, Niall, tinha morrido repentinamente na Irlanda. Isso foi uma trágica lembrança do que aconteceu com o meu pai na primeira vez que eu estive em Nova York, em 1980.

Edge: Nós estávamos indo para o nosso segundo ano na estrada. Aí surgiu a idéia, ‘Nós vamos ter algum tempo de folga. Ainda temos algumas idéias do último álbum, vamos fazer um EP, talvez umas quatro novas músicas para dar um tempero a mais para próxima fase da turnê. Um item de colecionador. Vai ser legal’. Então nós fomos para o The Factory Studio em Dublin durante algumas semanas em fevereiro de 1993. Mas, na metade do processo de produção desse material, o Bono, um eterno otimista, disse, ‘Se nós vamos ter todo o trabalho de fazer um EP, vamos nos esforçar e ver se conseguimos fazer um álbum completo’. Eu estava lutando na época para dar alguma forma à musica, e não fiquei muito entusiasmado com a idéia no começo. Mas aí eu vi que era um grande desafio, um pouco impressionante. Conseguiria o U2 fazer um álbum em doze semanas, que era todo o tempo que nós tínhamos, ou nós nos tornamos tão mimados pelos orçamentos sem fim das gravações que nós precisamos de um ano para fazer um álbum?

Paul: Bem no começo dessa empreitada, quando o Achtung Baby começou a se materializar como um álbum completamente formado, eu e o Bono costumávamos a conversar sobre o chamado golpe dois-em-um, ou seja, dois álbuns em uma única empreitada. Quando você tem pessoas prestando atenção, por que não acertá-los de novo? E foi daí que surgiu o Zooropa.

Bono: Eu acho que se o momento é uma grande fonte de criatividade durante a fase de criação de um álbum, talvez nós deveríamos ver o que acontece se nós tentarmos materializar toda essa excitação e iluminação que estava evidente à nossa volta. Era um bom plano, mas ele quase nos matou.

Edge: Nós tínhamos o Eno e o Flood, era uma grande ajuda, mas por causa do problema do tempo, nós tínhamos que nos dedicar muito. Não havia nenhuma oportunidade para bagunças ou mesmo segundas opniões, nós tínhamos que escrever, produzir e gravar e só. Algumas coisas que foram usadas tinham sobrado das sessões do Achtung Baby, uma melodia de um verso que se tornou ´Stay`, e a base instrumental de uma música completamente diferente que depois se tornou ´Numb`; algumas coisas que surgiram na hora, como ´Babyface` e ´The Wanderer`; algumas coisas que surgiram de pequenas idéias que tivesse na estrada. ´Zooropa` era dois pedaços de música separados que eu achei escutando fitas de sessões que tínhamos feito durante passagens de som. Eu me apropriei delas, descobri que elas se encaixavam e acabamos fazendo uma música com esses elementos completamente diferentes. Nós estávamos no limite. As músicas iam surgindo muito rapidamente. O problema foi que nós não acabamos a tempo de voltar para a estrada e o Eno e o Flood tinham que ir embora para fazer outro projeto que eles já tinham se comprometido, então nós ficamos no meio de um dilema. Todos diziam para nós, ‘Bem, é um EP. Vocês trabalharam muito bem, mas ainda há muito trabalho a ser feito para finalizar algumas dessas músicas’. Mas eles não contavam com a grande determinação dessa banda.

Adam: O nosso entusiasmo era muito grande. Nós simplesmente continuamos fazendo. A turnê européia começou em maio e nós passamos o primeiro mês voando todas as noites após os shows de volta para Dublin para ir para os estúdios para ter algumas horas de trabalho durante a noite ou na manhã seguinte. Assim, não foi apenas uma longa turnê, mas nós gravamos o álbum bem no meio dela. É provavelmente a coisa mais doida que nós podíamos fazer com nós mesmos.

Larry: O show terminava por volta das 11 horas. Assim que saíamos do palco, entrávamos direto nos carros, direto para o aeroporto e decolávamos. Como os shows eram na Europa, normalmente era só uma ou duas horas de viagem, e chegávamos à Irlanda mais ou menos meia noite, íamos direto para o estúdio, trabalhávamos algumas horas, depois para casa e cama. Normalmente havia alguns dias entre os shows, então nós podíamos ir para o estúdio durante a tarde, trabalhar até a noite, acordar no dia seguinte, ir para o aeroporto e viajar para a próxima cidade. Foi um mês assim. Foi uma loucura, mas foi uma boa loucura.

Edge: A distância que nós percorremos fazendo isso foi fora do comum. Mas nós fizemos.

Bono: Isso foi muito intenso, uma época de muita criatividade. Nós estávamos perdidos no nosso trabalho e na nossa arte e na nossa vida, tudo parecia ter se misturado em apenas uma coisa. As calças de plástico estavam ficando cada vez mais difícil de serem tiradas após os shows. Eu comecei até a tentar parodiar uma estrela do rock e descobrir como isso seria. Mas agora eu estava perigosamente começando a gostar disso. Mas teve outro desenvolvimento muito importante durante a fase Zooropa da turnê. Era tempo de colocar o Mirror Ball Man no guarda-roupa. Nós queríamos um caractér mais eurocêntrico, mais decadente, mais do velho mundo, ao invés de um ousador vendendor Yankee, que tinha Deus ao seu lado. Eu comecei a imaginar como seria o The Fly quando fosse velho e gordo e tocando em Las Vegas. O U2 invocou o diabo!

Edge: Em Janeiro de 1993, eu e Bono fomos para Hamburgo para participar de um festival contra o racismo no teatro Thalia. Era um concerto com apresentações artísticas, coletivas de imprensa, eventos teatrais e um debate contra o racismo. Essa era uma época na Alemanha onde havia muitos movimentos de reforma política. Eu acho que o efeito negativo da união do leste com o oeste sobre a economia, criou uma certa tensão social.

Bono: Havia muitas coisas acontecendo na Europa naquela época. Na Alemanha, os turcos estavam sendo brutalizados pelas gangues de skinheads. Uma criança tinha morrido em uma casa que foi incendiada. Por toda Europa, o facismo estava reacendendo novamente, o que era aterrorizante. Na França, havia suásticas pintadas nas sinagogas. Jean-Marie Le Pen, a líder do partido de ultra-direita, Front National, estava adorando todo esse apoio. Então nós decidimos que iríamos até lá.

Edge: Nós assistimos a apresentação do The Black Rider, que era um musical composto pelo Robert Wilson, William Burroughs e Tom Waits. Era baseado em uma história folclórica alemã sobre fazer acordos com o diabo, que era um personagem mefistoleano chamado Pegleg. Então quando o Bono começou a pensar no novo personagem, nós pensamos no diabo. Nós imaginamos como ele deveria ser, como ele deveria agir. O Bono fez um discurso durante a coletiva que dizia, ‘Ridicularize o diabo e ele irá fugir de ti. Temer o diabo leva a uma devoção a ele’. Outra inspiração foi um personagem que vimos em Madrid. Madrid é um dos poucos lugares onde você se sente normal mesmo estando na estrada, porque a maioria das pessoas ficam na rua até mais tarde e festejam ainda mais do que você. Nós acabamos uma noite em uma barulhenta boate, já durante as primeiras horas do dia, vendo esse cara passar. Ele provavelmente já tava na casa dos sessenta e vestido de forma impecável, um agradável cavalheiro espanhol, vagabundando em uma boate, ignorando todo mundo, mas meio que acenando para uma platéia imaginária. Isso foi muito extraordinário. Eu não sei até que ponto ele estava sob a ação de drogas psicodélicas ou ele era apenas um artista excêntrico e um farsante, mas nós o observamos por uns bons vinte minutos e nos deu muitas idéias.

*Páginas 236, 239, 240, 241, 245, 246 - Fotos

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